terça-feira, 2 de outubro de 2012

O tal “futebol moderno”: Feito de cretino para cretino

Não tem jeito, a cretinada tomou conta do futebol. E o pior, se alastrou em todas as classes do esporte bretão. Dirigentes, jogadores, árbitros, torcedores, todos tomados pela canalhice.

O último fim de semana no futebol brasileiro foi um exemplo claro do que estou dizendo. Três situações lamentáveis, dignas de pena e indignação ao mesmo tempo.

Primeiro foi o ocorrido em Recife, no sábado, quando o árbitro Leandro Vuaden, numa atitude patética não permitiu o inicio do jogo entre Náutico e Atlético Goianiense enquanto a torcida mandante não retirasse das arquibancadas uma faixa com os dizeres: “NÃO IRÃO NOS DERRUBAR NO APITO”.

Não fosse apenas ridículo, o ato do apitador que atrasou em vinte minutos o inicio da partida, também me parece ser anticonstitucional, afinal, onde foi parar o tal principio da liberdade de expressão?

01A faixa da discórdia: Por isso Vuaden atrasou em 20 minutos o começo da peleja.

“Ah, mas o árbitro está amparado pelo Estatuto do Torcedor.” poderia dizer alguém que concorde com o autoritarismo visto no Estádio dos Aflitos. Dane-se! Sempre aprendi que nenhuma Lei está acima da Constituição Federal, e ela deve ser respeitada, oras.

No domingo, o show de horrores continuou com força total. No Pacaembu, um turista escocês decidiu ir assistir a peleja entre Corinthians e Sport, vestindo uma camisa de seu clube de coração, o Celtic. Até aí tudo bem, não fosse um pequeno detalhe: a tradicional camisa do clube da Escócia, com listras horizontais em verde e branco remetiam às cores do Palmeiras, maior rival do time do Parque São Jorge.

Pronto, foi o suficiente para que meia dúzia de imbecis se sentissem no direito de “obrigarem” o cidadão a tirar a camisa. Por sorte, a polícia interveio, explicou ao gringo o que estava acontecendo e o aconselhou a vestir por cima um agasalho que ele trazia em sua mochila, evitando assim que algo pior ocorresse. Cabe ressaltar, que tal fato aconteceu nas numeradas do Paulo Machado de Carvalho, onde teoricamente ficam os torcedores mais “civilizados”.

Mas o pior do fim de semana aconteceu no Couto Pereira.

Ao término do jogo entre Coritiba e São Paulo, a pequena Milena, de apenas 13 anos, das arquibancadas gritava desesperada por um pouco de atenção de seu ídolo, o são paulino Lucas. O atleta foi até a criança e deu para ela a sua camisa. Pronto! Apareceu novamente uma meia dúzia de babacas, com agressões à jovem e ao seu pai que a acompanhava, forçando para que a camisa fosse devolvida, como se isso fosse um desrespeito ao Coritiba e ao seu torcedor, ou se fosse mudar o resultado da partida e a situação delicada do clube na tabela.

Dessa vez, o policiamento, que estava a cerca de 10 metros da confusão, não interveio e a garota teve que devolver a camisa ao jogador antes que ela e seu pai fossem espancados.

Talvez Lucas e o pai da menina tenham sido um tanto ingênuos em não perceber que a entrega da camisa ali poderia gerar essa confusão, o que não justifica de maneira alguma a brutalidade dos “valentões” com uma criança. E não justificaria também se ao invés de uma criança fosse ali um marmanjo.

1349098214188-torcida-coxaA jovem Milena, acompanhada de seu pai (de azul): aos prantos e cercada pelos pseudo valentões que agridem uma criança.

Ainda bem, que Lucas e o São Paulo Futebol Clube, num gesto elogiável, convidaram a menina a ir aos túneis do estádio, onde ela pôde receber de volta a camisa e conhecer melhor o seu ídolo.

Pacaembu e Couto Pereira, mesmos estádios que há quinze dias já haviam presenciado outras babaquices sem tamanho por parte dos árbitros Marcelo Aparecido de Souza e Ronan Marques da Rosa.

O primeiro mediava o clássico entre Palmeiras e Corinthians, com mando de campo dos alviverdes. Quando Romarinho marcou o gol que abriu caminho para a vitória alvinegra por dois tentos a zero, correu em direção à arquibancada laranja do estádio, onde geralmente ficam as organizadas corinthianas, mas que naquele dia estava a torcida palmeirense. E apenas por isso, foi punido com um cartão amarelo, sem ter feito absolutamente nada.

Enquanto no estádio curitibano, o time da casa vencia o Santos por 1 a 0 e seu torcedor fazia festa, além de vaiar e xingar o ídolo rival Neymar sempre que esse pegava na bola. Tudo certo até então, mas quando o atacante santista marcou o segundo gol dele no jogo e virou o placar em favor do time da baixada, saiu em direção à torcida Coxa Branca, colocando a mão no ouvido, como quem pedia pra que lhe vaiassem ainda mais. E apenas por isso, a exemplo do avante corinthiano, acabou punido com um cartão amarelo – que na ocasião foi o seu terceiro, o que o fez perder a partida contra a Portuguesa na rodada seguinte.

Fico imaginando o que aconteceria com Viola e sua comemoração imitando um porco hoje em dia. Ou Renato Gaúcho, que tinha como hábito colocar o dedo indicador na boca, pedindo silêncio ao torcedor rival. Edmundo, e sua clássica comemoração rebolando em deboche ao Flamengo. Estariam fadados ao fracasso, seriam vencidos pela maldição do politicamente correto.

Viola-PorcoViola imitando um porco após gol contra o Palmeiras: Nos dias de hoje, no tal futebol moderno, talvez fosse expulso por isso.

Mas não pensem que os jogadores de hoje em dia são santos também não, porque estão longe disso. São tão canalhas quanto os apitadores e suas decisões estapafúrdias ou torcedores que regem leis próprias para as arquibancadas.

Ou alguém ainda não está enojado com a praga do cai-cai que tomou conta do futebol? Muitos jogadores habilidosos e decisivos, que simplesmente abrem mão de jogar para se atirarem na área ou próximo dela a fim de cavar uma falta, uma penalidade, ou uma expulsão.

Também nesse fim de semana, mas pelo Campeonato Espanhol, o Sevilla vencia o Barcelona por dois a um, até os trinta da etapa final, quando uma cena patética protagonizada por Fabregas mudou o rumo da partida.

O jogador do Barça se desentendeu com o volante Gary Medel, e chegaram a tocar ombro com ombro. Repito, OMBRO COM OMBRO. Logo o meia blaugrana colocou a mão no rosto, alegando que tinha sido atingido ali pelo seu adversário. Resultado: o árbitro Mateu Lahoz caiu na simulação e expulsou o volante chileno, deixando o Sevilla com um a menos e facilitando para que o Barcelona conseguisse a virada nos minutos finais com gols do mesmo Fabregas e Villa.

cesc-medelO “encontrão” entre Medel e Fabregas. Ombro com ombro que rendeu o cartão vermelho ao jogador do Sevilla.

Fabregas, cria das canteras do Barcelona, assim como Sergio Busquets, que há duas temporadas nas semifinais da UEFA Champions League contra a Inter de Milão, foi o ator de atitude ridiculamente igual, o que provocou a expulsão do volante ítalo-brasileiro Thiago Motta – ainda assim, a Inter conseguiu se segurar e garantir sua vaga na decisão.

Será que além de treinar os passes milimétricos e noção de posicionamento como poucos, a escola de La Masia também dá aulas de dramaturgia? É o que parece.

Mas jogadores que tentam ganhar vantagem em tudo não estão apenas no Barcelona, pelo contrário, o tal futebol moderno está cheio deles.

É um tal de reclamar de tudo, bater de frente com árbitros, simularem lesões de forma grotesca para ganhar tempo, cobrar escanteio um ou dois centímetros fora da marca, como se esse micro pedaço de campo “ganho” fosse fazer toda diferença na cobrança.

Coisas pequenas, que não vão fazer diferença no fim das contas. Pode até fazer em um jogo, em um resultado, mas não o fará ao fim de uma competição, pois o mesmo time que hoje faz cera para ganhar um jogo, amanhã vai reclamar de um rival usando o mesmo artifício.

Não quero aqui bancar o caga regra que espera um jogo todo correto, feito por anjinhos. Não! Isso é vídeo game. Futebol não é assim. E se fosse, seria chato pra caramba (pra não usar outro termo).

Mas, convenhamos que um pouquinho menos de babaquices e autoritarismos por parte de torcedores e árbitros e um pouquinho mais de hombridade dos jogadores não fariam mal a ninguém e enriqueceriam ainda mais o espetáculo.

Porque é isso que o futebol é, um grande espetáculo. Que já viveu dias melhores. E que hoje, com cretinos fazendo um esporte para cretinos, o tal “futebol moderno”, vem matando aos poucos o bom e velho esporte bretão. Infelizmente.

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