sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cronologia tática da “Era Mano”

No inicio da tarde de sexta-feira, 23 de novembro, em reunião na sede da Federação Paulista de Futebol, foi decidida, de maneira surpreendente, a demissão do treinador da Seleção Brasileira, Mano Menezes.

Mano já superou momentos ruins na seleção, por isso sua saída agora soa surpresa. Sua primeira crise veio logo após a queda nas quartas de finais da Copa América, em 2011, e o técnico resistiu.

O time seguiu instável, jogando um futebol bem burocrático, longe do jogo encantador que muitos esperavam, e sem vencer um adversário de peso. Vieram os Jogos Olímpicos, o time seguiu jogando pouco e acabou derrotado na final perante a seleção mexicana. Ali, me parecia o momento ideal para a troca do comando técnico e tinha toda pinta de que ia mesmo acontecer. Não aconteceu.

O treinador seguiu, mudou o estilo de sua seleção, mudou a maneira de jogar e o time chegou a apresentar um futebol vistoso, ainda que contra adversários sem tanto porte. E ironicamente, no momento em que Mano parecia encontrar um rumo para o selecionado canarinho, vem o anuncio da sua queda.

Para relembrar um pouco de como foi a passagem de Mano Menezes no comando da Seleção Brasileira, listamos abaixo alguns jogos importantes no período em que o treinador dirigiu o scratch.

Brasil 2-0 EUA

Jogo de estréia do treinador, em 10 de agosto de 2010. Após uma Copa do Mundo mixuruca, uma belíssima apresentação contra uma seleção razoável, dava a impressão de que Mano sabia bem o que estava fazendo e que tinha totais condições de ressuscitar o “futebol arte” brasileiro, característica sempre marcante na nossa seleção. Neymar e Pato marcaram, Ganso desfilou um futebol de primeiríssima qualidade, Robinho, Ramires e Dani Alves formavam uma base tarimbada da derrota no Mundial. Enfim, a primeira impressão, foi a melhor possível.

20121123164307A estréia: Time solto e ofensivo. Num 4-2-3-1 com o trio Neymar, Ganso e Robinho na criação, mais Alexandre Pato na referencia.

Brasil 0 (0)-(2) 0 Paraguai

Jogo que marcou a eliminação da Seleção na Copa América. Ironicamente, a melhor apresentação do time de Mano Menezes na competição, porém, faltou poder de fogo para decidir a parada durante os 120 minutos de bola rolando. Nas penalidades, um show de horrores com direito a quatro cobranças desperdiçadas e uma derrota pífia por dois a zero para os paraguaios.

20121123195617Contra o Paraguai, o mesmo sistema tático e o mesmo trio de armadores, mais alguns nomes vindos da Copa do Mundo, como Julio Cesar, Maicon e Lucio. Boa apresentação, que pecou no poder de fogo.

Brasil 1-2 México

Decisão dos Jogos Olímpicos. O México, nunca foi o adversário mais temido, e na ocasião, sem poder contar com seu melhor jogador, Giovanni dos Santos, dava toda pinta de que a tão sonhada medalha de ouro viria. Ledo engano. O erro de Rafael que gerou o primeiro gol mexicano logo no inicio do cotejo, jogou por terra todo o plano de jogo da seleção. Nervoso, o time pouco criou e tomou o tiro de misericórdia na segunda etapa. Depois até diminuiu, mas não conseguiu chegar ao empate e ficou somente com a prata.

20121123201100Nas Olimpiadas, Mano saiu do 4-2-3-1 costumeiro e reinventou a equipe num 4-4-1-1 em linha, com Oscar vindo da direita pra dentro e Neymar encostando em Damião.

Brasil 4-0 Japão

Apresentação de gala. Mano alterou seu time, sacou o homem de referencia do ataque e passou a jogar sem centroavante, apostando na mobilidade e talento do quarteto Neymar, Kaká, Oscar e Hulk. Funcionou! O time apresentou um belo futebol e envolveu a seleção japonesa, que se não é lá uma grande potencia, também está longe de ser uma baba. Parecia que, enfim, Mano encontrava um time ideal e mirava um norte para a seleção.

20121123201634Para esse que vos escreve, o time da melhor apresentação da “era Mano”. 4-2-3-1, sem um centroavante de oficio, mas com muita mobilidade na frente e sempre alguém na área, mais volantes que sabem sair pro jogo.

Brasil 1 (4)-(3) 2 Argentina

O jogo de despedida de Mano foi uma derrota diante da Argentina com a bola rolando, mas com a vitória nas penalidades e o título do tal Superclássico das Américas. Contando apenas com jogadores que atuam no país, o treinador não tinha tantas opções, mas podia ter feito melhor, apostado mais, arriscado mais e não ter jogado com o regulamento embaixo do braço para ganhar um título de valor quase nulo.

20121123202026A despedida, num 4-3-1-2 com Paulinho e Arouca saindo pro jogo enquanto Ralf dava suporte para a linha defensiva.

Três nomes despontam como favoritos para assumirem o comando da Seleção. Tite, no melhor momento da carreira e melhor momento dentre os três cotados. Felipão, sem clube após a saída do cambaleante Palmeiras, e Muricy, que por pouco não assumiu antes de Mano e que é o grande favorito. Não me agrada, mas é vencedor, tem um curriculo invejavel e pega um trabalho em construção e principalmente, em evolução. Qualquer um que vier a assumir, terá boa herança para trabalhar.

sábado, 17 de novembro de 2012

Arsenal 5-2 Tottenham – O Erro que decidiu

O gol de Adebayor logo aos 10 minutos de jogo, quando o Tottenham era muito superior no jogo e comandava as ações, poderia ter sido decisivo no derby londrino. Mas o lance do togolês que acabou resolvendo a parada veio alguns minutos depois, quando num lance de completa loucura, o camisa 10 deu uma entrada criminosa em Cazorla e recebeu o justo cartão vermelho direto.

Ars-Tot 01No inicio do jogo, Arsenal no 4-2-3-1 costumeiro e Tottenham num 4-4-2. Após a expulsão de Adebayor, Wilshere se adiantou e Gunners se postaram num 4-1-4-1 que dominou completamente os Spurs.

A partir daí, o Arsenal cresceu e dominou completamente a partida. Wilshere avançou seu posicionamento, deixando apenas Arteta na volância e formando uma linha de quatro armadores, com Cazorla ao seu lado por dentro, mais Podolski pela esquerda e Walcott no flanco direito, de onde fez boa jogada pra cima do fraco Naughton e cruzou para Mertesacker subir sozinho e testar com força para empatar a peleja.

O lado direito continuou se mostrando como o mapa da mina para a vitória gunner. Por ali, surgiram duas grandes oportunidades para Giroud virar, porém, nas duas o francês parou em seu compatriota, o goleiro Lloris. Quem não parou no arqueiro foi Podolski, que após troca de passes (iniciada no lado direito), recebeu de Wilshere e bateu mascado. A bola desviou em Gallas e foi morrer fraquinha no canto esquerdo do goleirão do Tottenham.

Já nos acréscimos da primeira etapa, Cazorla fez linda jogada, dessa vez pela esquerda, e cruzou rasteiro para Giroud se antecipar à zaga e tocar no contrapé de Lloris, dessa vez sem chances para o goleiro. Destaque total para a raça do espanhol no lance, que antes de cruzar, sofreu falta, caiu e se levantou para seguir no lance. Um exemplo para muitos jogadores que adoram se atirar.

No intervalo, já se imaginava que André Villas Boas teria que mexer para reforçar seu lado esquerdo, ou acabaria sofrendo uma goleada toda criada naquele setor. E o português sacou não apenas o lateral esquerdo Naughton, como também o direito Walker, para as entradas de Dawson e Dempsey, repaginando sua equipe num 3-4-1-1, com Dempsey atuando entre a linha de quatro homens de meio e o centroavante Defoe.

A estratégia até deu certo e no começo da segunda etapa o time visitante conseguiu igualar forças com o Arsenal mesmo com um homem a menos. Porém, não demorou muito para o Arsenal se reencontrar, voltar a se impor e praticamente liquidar a fatura com o quarto gol, anotado por Cazorla após cruzamento rasteiro de Podolski.

Bale chegou a marcar um belo gol, batendo de fora da área de pé direito e diminuir o vexame. E poderia ter diminuído ainda mais, quando pouco depois do gol, o mesmo galês fez boa jogada pela esquerda, foi até o fundo e bateu cruzado para fora. No entanto, o camisa 11 poderia ter optado em rolar para o meio, onde Defoe aparecia sozinho e tinha clara chance de marcar.

Antes do apito final do árbitro, ainda deu tempo de Walcott, um dos melhores em campo ao lado de Cazorla, deixar o seu após bom lance de Oxlade-Chamberlain, que roubou a bola de Carroll no meio campo, avançou até a entrada da área e tocou para o camisa 14 só tirar de Dawson e bater na saída de Lloris para dar números finais ao marcador e repetir a goleada do Arsenal sobre o rival por cinco a dois, que já havia acontecido em fevereiro.

Muito graças à tola expulsão de Adebayor. Enquanto eram 11 contra 11, o Tottenham tinha quatro finalizações contra nenhuma do Arsenal. Ao fim da partida, eram 14 dos donos da casa, contra apenas 6 dos Spurs. Somente dois arremates a meta adversária quando em desvantagem numérica. Número que ilustra bem o quanto o erro de Adebayor foi decisivo no clássico em que seu time poderia ter tido melhor sorte.

Ars-Tot 02No fim, Arsenal ainda com quatro armadores, mas com Walcott fazendo as vezes de centroavante após a troca de Giroud por Chamberlain. Tottenham com três zagueiros, até melhorou, mas com um a menos não foi capaz de segurar o rival.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fluminense Tetra Campeão: Os Personagens da Conquista



Você pode até ter, em algum momento, questionado o futebol apresentado pelo Fluminense, campeão brasileiro no último domingo ao bater o Palmeiras em Presidente Prudente por três tentos a dois. O que não dá pra contestar é a campanha tricolor na conquista. Soberba. Soberana.

Vinte e duas vitórias, dez empates e apenas três derrotas. Nenhum campeão na era dos pontos corridos perdeu tão pouco. 76 pontos obtidos em 105 até aqui disputados, o time detém um incrível aproveitamento de 72,3%, que nesse quesito só perde para o Cruzeiro de 2003 com seus 72,4%. Com três jogos a serem disputados, o Flu ainda pode chegar a 74,5%, e assim se consolidar como o melhor campeão dos pontos corridos.

Melhor ataque, melhor defesa, melhor em tudo! Esse é o Fluminense campeão brasileiro de 2012. Título mais do que justo, enriquecido por alguns personagens centrais dentro da campanha – sem desmerecer os demais, claro. E são esses personagens que o blog destaca nas linhas a seguir, aqueles que foram “os caras” do Fluzão ao longo do campeonato.

Diego Cavalieri – Todo grande time começa por um grande goleiro. Um mais antigo chavões do futebol vale e muito para este Fluminense campeão. Cavalieri foi monstruoso, pegou tudo! Ao todo, foram 127 intervenções difíceis – uma média de 3,6 por jogo, garantindo que o time tivesse a melhor defesa da competição e assegurando o resultado positivo em diversas ocasiões. Sem dúvidas, o melhor goleiro do campeonato, e para alguns (inclusive esse que vos escreve), o craque do certame.

Gum – Desde que chegou ao clube, sempre foi questionado. Sempre ouviu que “o Fluminense precisa de reforços na zaga”. E sempre esteve lá, fazendo parte da campanha que salvou o time do rebaixamento em 2009 de forma milagrosa, do título de 2010, e mais uma vez, firme na zaga central do tricolor que faturou o tetra campeonato nacional.

Jean – Se firmou ao longo da competição para terminar como um dos melhores volantes do campeonato. Se é que podemos chamar Jean de volante. Sempre que o jogo se complicava e os espaços se reduziam para os homens de frente, aparecia o camisa 25 tricolor saia para armar o jogo com qualidade de meia cerebral, distribuindo com maestria, além de desarmar e contribuir demais quando o time não detinha a posse da bola.

Wellington Nem – Cria de Xerém que emprestado ao Figueirense em 2011, fez grande campeonato pelo time catarinense. De volta ao tricolor, conquistou seu espaço no time titular em meio a tantas estrelas jogando um futebol de gente grande. Tanto que chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira e esteve na pré-lista para os Jogos Olímpicos de Londres. Apesar da baixa estatura, um jogador forte, que dificilmente cai mesmo com tantas pancadas sofridas, rápido e habilidoso, o jovem foi um dos líderes de assistências do campeão, com 10 passes para gols. Além disso, contribuía demais no trabalho sem a bola.

Fred – Letal! Não vejo palavra melhor para definir o definidor Fred. Talvez o camisa 9 tenha sido o jogador tricolor (dentre os titulares) que menos tocou na bola em todo o campeonato, mas, quem disse que Fred precisa de muitos toques? Para o artilheiro do campeonato, um tapa na criança é mais que suficiente para colocá-la no fundo da rede, como já fez em 19 oportunidades na competição – além de, assim como Nem, ter dado 10 assistências. No jogo que garantiu o título, contra o Palmeiras, um show a parte do capitão, com dois gols e participação direta no outro.

Abel Braga – Chegou no meio do ano passado e reconstruiu o time largado às traças por Muricy Ramalho, levando à equipe ao terceiro lugar. Nesse ano, começando um trabalho desde o inicio, teve participação razoável na Libertadores, onde caiu pro vice-campeão Boca Juniors com um gol espírita no finalzinho, conquistou o estadual e faturou o Brasileirão com sobras. Soube mexer na hora certa, mudar a equipe taticamente para crescer e solidificar ainda mais aquela que pode ser lembrada como a melhor campanha da era dos pontos corridos – em termos de aproveitamento.

Para ler mais sobre o tetra campeão nacional, recomendo os textos dos amigos André Rocha (aqui) e do Vinicius Grissi (aqui).

domingo, 11 de novembro de 2012

Bem vindo de volta, Goiás

O placar de 3 a 0 sobre o Barueri que garantiu a volta à Serie A foi apenas mais do mesmo para o Goiás, imbatível no Serra Dourada durante toda a campanha que culminou no retorno a elite do futebol nacional.

Dentro do estádio que ontem recebeu o impressionante público de 39 mil pessoas, o clube esmeraldino venceu 14 vezes e empatou outras quatro, com 37 gols anotados e apenas sete sofridos.

Com três pontos de vantagem para o segundo colocado Criciúma, é muito provável que a torcida goiana comemore o bi campeonato da segundona nacional na última rodada, contra o Joinville, fechando a participação em sua casa, que certamente estará mais uma vez pintada de verde.

Mas não foi apenas em casa que o Goiás sobrou. Longe de seus domínios, o time comandado por Enderson Moreira também conseguiu bons resultados, com oito vitórias e quatro empates (foi derrotado em seis oportunidades), somando 24 pontos.

Muitos desses, no segundo turno do campeonato, quando o treinador encontrou a formação ideal e conseguiu somar 38 dos 51 pontos disputados até aqui. Sendo 27 deles numa incrível arrancada de nove vitórias e apenas uma derrota, diante do Vitória em Salvador.

Adepto ao sistema da moda, o 4-2-3-1, Enderson adotou no Goiás uma particularidade. Com laterais que mais apóiam do que defendem (muito mais, inclusive), o treinador prende seus volantes Amaral e Thiago Mendes para fazerem a devida cobertura, garantindo assim sustentação defensiva à sua equipe.

Na frente, o trio de meias que alia velocidade à intensa movimentação, invertendo constantemente o posicionamento e confundindo a marcação adversária. A trinca de armadores que soma 25 gols (12 de Ricardo Goulart, 7 de Ramon e 6 de Renan Oliveira) é a grande arma do time, que conta ainda com os gols do artilheiro Walter.

Atuando como pivô, o camisa 18 compensa a nítida falta de condicionamento físico com arremates precisos, que já lhe garantiram 15 tentos na competição. Além dos gols, o atacante é importante também para prender a bola na frente, aguardando a chegada de algum companheiro vindo de trás.

A má notícia para o torcedor esmeraldino é que o empréstimo do artilheiro está chegando ao fim e o Porto já manifestou o interesse em contar novamente com o futebol de Walter. Além dele, Vitor, que pertence ao Palmeiras e Ricardo Goulart, em negociação adiantada com o São Paulo, também devem deixar a Serrinha.

Mas, agora que o grande objetivo da temporada foi alcançado, isso de pouco importa para a torcida verde e branca do cerrado. Esse torcedor, só quer saber mesmo é de fazer sua merecida festa pelo justíssimo retorno à primeira divisão nacional.

Goiás 4231O time que bateu o Barueri garantindo o acesso e foi base durante toda a campanha: 4-2-3-1 com Walter no comando de ataque, laterais liberados para avançar e intensa movimentação da trinca de armadores.