sábado, 28 de abril de 2012

Fim de um (glorioso) ciclo

Foi decretado na última sexta-feira o fim de uma era. Uma era gloriosa, a “era Guardiola” no comando do Barcelona. A parceria, mais do que bem sucedida, chega ao fim após quatro temporadas de puro êxito, com 13 títulos em 18 disputados, 154 vitórias, 40 empates e apenas 18 derrotas em 212 partidas comandando uma das mais fantásticas equipes de todos os tempos, a melhor que este blogueiro viu jogar, que obteve um aproveitamento de 82% dos pontos disputados.

Guardiola assumiu um Barcelona em derrocada após duas temporadas de insucessos que encerraram a passagem de Frank Rijkaard no comando da equipe. Prontamente modificou a equipe, barrando Ronaldinho e Deco, dois dos principais nomes do time até então – Eto’o era pra ter saído junto, acabou ficando por mais uma temporada. E desde então não parou de inventar, reinventar e triunfar dirigindo o time catalão.

Para tentar ilustrar um pouco do que foram as quatro brilhantes épocas blaugranas sob a batuta de Pep, esse que vos escreve irá passar, em resumo, um pouco do que foi cada uma delas nas linhas a seguir.

2008/2009

Assim que assumiu o time, (como já relatado acima) Pep Guardiola já abriu mão das três principais estrelas do time. Eto’o ainda ficou, mas Deco e Ronaldinho se foram, para Chelsea e Milan, respectivamente. O treinador pediu e o clube abriu os cofres para tirar Daniel Alves do Sevilla. Além do lateral, o Barça repatriou Gerard Piqué, formando assim a linha defensiva da equipe para a temporada juntamente com Puyol e Abidal, além de Valdés.

Mas foi no meio e no ataque que o time da temporada inaugural de Guardiola brilhou. Xavi e Iniesta, em perfeita sintonia, dominaram o meio campo e mostraram ao mundo que ali havia um novo estilo de futebol, um estilo superior, que dominava qualquer adversário, o encurralando em seu campo de defesa. Na frente, um tridente diabólico varreu todas as defesas que encarou. Henry na ponta esquerda, Eto’o por dentro, saindo para os lados e invertendo o posicionamento tanto com o francês quanto com Messi, que na ocasião, caia mais pelo lado direito da trinca de avantes. E partindo dali o argentino foi o dono do time que ganhou tudo o que disputou naquela temporada. Espanhol, Copa do Rey, Champions League, Mundial de Clubes, Supercopas espanhola e européia.

Dois confrontos em especial marcaram a trajetória da temporada debutante de Pep: O triunfo sobre o então atual campeão europeu Manchester United – na época comandado por Cristiano Ronaldo – por dois tentos a zero que assegurou ao clube seu terceiro título continental, e especialmente, a impiedosa goleada imposta ao rival Real Madrid por 6 a 2 em pleno Santiago Bernabéu, naquela que é considerada por esse blogueiro como a melhor partida da equipe naquele ano.

Barça 08-09Temporada 2008/2009: O mesmo 4-3-3 que já era utilizado por Rijkaard, com sutis mudanças nas peças e no estilo de jogo, aliando um maior domínio da posse de bola à velocidade e profundidade no ataque. Destaque para o posicionamento de Messi, ainda ponta-direita, partindo do flanco para dentro para arrematar ou abrindo o corredor para Daniel Alves.

2009/2010

Depois de uma primeira temporada simplesmente fantástica, cresceu a expectativa sobre como seria a segunda época de Guardiola a frente do Barcelona, se repetiria todo o sucesso do ano anterior. Do time multi campeão, se foi o camaronês Samuel Eto’o para a Internazionale, de onde também veio o substituto para o camisa 9, Zlatan Ibrahimovic.

Além do sueco, outras mudanças ocorreram na equipe ao longo da temporada. No meio campo, o jovem Busquets, com poder de marcação e muita qualidade na saída pro jogo, barrou Yaya Touré no papel de volante. Na frente, o prodígio Pedro, que foi o primeiro jogador a marcar em todas as competições que disputou em uma única temporada tomou a posição do veterano Henry, que a esta altura já tinha sua saída praticamente decretada ao fim daquele ano. Mas, foi com Messi que ocorreu a principal mudança. Guardiola tirou o argentino da ponta direita, o deslocou para o centro do gramado, atuando atrás de Ibrahimovic, numa linha de três armadores que contava com Pedro pela direita e Iniesta aberto na esquerda – além de Xavi, que apesar de ter sido recuado para jogar mais ao lado de Busquets, se adiantava e se juntava ao trio constantemente.

Atuando por ali, mais próximo do gol e com maior chegada na área adversária, o camisa 10 mostrou ao mundo que ainda tinha muito a evoluir e que poderia dar ainda mais ao Barcelona, o que deixou a torcida esperançosa, apesar dos fracassos da equipe na Champions League e na Copa do Rey, onde caiu para Internazionale e Sevilla, respectivamente.

Barça 09-10Temporada 2009/2010: O 4-3-3 tradicional deu espaço a um 4-2-3-1, que contava com Xavi mais recuado, atuando ao lado de Busquets e uma trinca de meias. Iniesta deslocado pela esquerda, Pedro pela direita e Messi por dentro, atuando atrás de Ibrahimovic e mais próximo da área oponente.

2010/2011

O time que conquistou apenas a liga espanhola na temporada anterior sofreu diversas mudanças. Ibrahimovic, que não mostrou a que veio na equipe, se foi para o Milan. Para o seu lugar, chegou David Villa. Além do artilheiro espanhol na Copa do Mundo, chegaram também alguns bons nomes para compor o grupo, casos de Adriano e Afellay.

Além das peças, dentro de campo também a equipe mudou. O habitual 4-3-3 voltou a ser utilizado, com Villa e Pedro bem abertos nas pontas, alargando o campo e penetrando em diagonal para receber os passes sempre açucarados de Xavi, Iniesta e também de Messi, que definitivamente veio jogar por dentro, cumprindo um papel de “falso 9”, circulando nas costas dos volantes adversários, entre as linhas de zagueiros e de meio campo rival, regendo o time como um legitimo camisa 10 e chegando na área para concluir como um nove. Nessa função, o argentino foi ainda mais genial do que já tinha sido em toda sua carreira e levou o time novamente à conquista da Champions, além do tri nacional.

Foi durante a temporada que aconteceram aquelas que podem ser consideradas as melhores apresentações blaugrana sob a batuta de Pep. Primeiro no clássico contra o Real Madrid pelo primeiro turno do espanhol, quando dentro do Camp Nou, o Barcelona aplicou sonoros 5 a 0 sobre o rival – leia mais AQUI. Depois na final da Champions, novamente contra o Manchester United, quando com domínio absoluto do jogo e um gol de cada avante a equipe catalã bateu os ingleses por 3 a 1 e levou seu quarto caneco continental – leia mais AQUI.

Barça 10-11Temporada 2010/2011: A volta do 4-3-3 e a mudança definitiva no posicionamento de Messi, que passou a atuar como “falso 9”, circulando por trás dos volantes adversários. Villa e Pedro abertos e penetrando nas diagonais era outra perigosa arma. No campinho, o onze inicial utilizado contra o Manchester United na decisão da UCL, por isso Mascherano e não Puyol na zaga.

2011/2012

O time base da temporada anterior foi mantido e chegaram ainda dois bons reforços. Alexis Sanchez, que veio da Udinese e Cesc Fabregas, que depois de inúmeras tentativas sem sucesso, enfim foi repatriado a casa onde começou sua carreira.

Com a chegada do camisa 4, Guardiola precisou quebrar a cabeça para encaixá-lo no time tão afinado da temporada anterior. Utilizou em diversos momentos o mesmo 4-3-3, com Messi mais adiantado, saindo um pouco mais à direita e Cesc como “falso 9”, atuando bem próximo ao argentino, buscando as tabelas.

Barça 11-12 4-3-3 O 4-3-3 chegou a ser utilizado, com Messi saindo um pouco mais à direita e Cesc de “falso 9”.

Mas em grande parte da temporada o sistema utilizado foi o 3-4-3, com Dani Alves espetado na ponta direita, Messi como centroavante, Sanchez bem aberto na ponta esquerda e Cesc como “enganche”, atuando atrás de Messi e se aproximando do camisa 10, fazendo até um 3-3-4 em algumas ocasiões.

A proposta era muito boa, mas os resultados em campo não aconteceram. Na liga espanhola, o time está a sete pontos do virtual campeão Real Madrid a quatro rodadas do fim. Na Champions, caiu diante de um Chelsea valente, que resistiu a mais de quarenta e cinco minutos com um jogador a menos e se classificou para a decisão. Ainda há a possibilidade da conquista da Copa do Rey em final que será disputada no dia 20 de maio contra o Athletic Bilbao, mas convenhamos que é muito pouco para esse grupo acostumado a conquistas maiores.

Barça 11-12 Temporada 2011/2012: 3-4-3 mais que ofensivo, que por vezes se tornava 3-3-4 com o avanço de Fabregas. Pressão total no campo adversário, com até seis homens trabalhando a bola ou tentando recuperá-la.

Os feitos de Guardiola no comando do Barcelona ficarão para sempre, em números e nas memórias dos apaixonados por futebol, mas, hoje, o fato é que acabou uma das mais bem sucedidas parcerias do esporte. Ambos seguirão, e a única certeza é de que Guardiola perde mais sem o Barça do que o contrário. O clube já conta com uma espinha dorsal, que muito provavelmente seguirá vencedora com Tito Vilanova, ex-assistente de Pep e futuro treinador culé.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Festa Campineira

Depois de longos quatro meses de futebol “xoxo”, sem grande desinteresse por parte de público e mídia, enfim os estaduais entraram nas suas fases finais, e com isso, ganharam atenção. Especialmente no Paulistão, onde duas gratas surpresas aconteceram nos duelos entre times da capital vs times de Campinas, com os times do interior do estado derrubando os gigantes Corinthians e Palmeiras, ambos pelo placar de três tentos a dois.

CORINTHIANS 2-3 PONTE PRETA

No Pacaembu, chuvoso e de público apenas razoável, a Ponte Preta vacinada pela derrota na última rodada da primeira fase para o mesmo Corinthians (que mesmo com o time misto não abriu mão de suas principais características), veio disposta a parar o alvinegro da capital com estratégia bem definida e muito empenho por parte do time campineiro.

Corinthians-Ponte

Gilson Kleina armou sua equipe em um 4-2-3-1 muito bem distribuído, com o lateral Cicinho escalado pela direita na linha de armadores, para acompanhar Fábio Santos. Pela esquerda, Caio fazia o mesmo com Edenilson, enquanto por dentro, Renato Cajá dava combate em Paulinho, impedindo a saída de bola corinthiana. Assim, a Macaca conseguiu se impor mesmo na casa do adversário e dominar o começo do jogo, porém, o primeiro lance de perigo só veio em uma bola parada, quando William Magrão cobrou falta de longe e contou com grande colaboração de Julio César para abrir o placar.

Com o placar adverso, o Corinthians até tentou se soltar um pouco mais e controlou a posse da bola mais no seu meio campo, porém, esbarrava no forte bloqueio da Ponte, que era quem conseguia criar as melhores oportunidades de gol em contragolpes rápidos e bem articulados, quase sempre passando pelos pés criativos de Renato Cajá e Caio. Num desses, o camisa 11 acionou o lateral Uendel passando sozinho pela esquerda, de onde esse centrou para Roger se antecipar a Leandro Castan e ampliar antes do fim da primeira etapa.

Tite mexeu mal no intervalo e voltou com Alex e Douglas nas vagas de Danilo e Jorge Henrique. As mudanças deixaram o time ainda mais entregue à marcação pontepretana, muito devido a má forma física de Alex, recém voltado de lesão que perdeu praticamente todas as disputas no meio, além de tornar a equipe mais lenta e previsível. Erro que só foi corrigido com outra mudança logo aos 10 da etapa final, quando o treinador lançou Willian no lugar do jovem zagueiro Marquinhos, recuando Ralf para a zaga central e deixando apenas Paulinho na contenção – algo que não acontecia na pratica, uma vez que o camisa 8 se lançava ao ataque.

Corinthians-Ponte2

O time se soltou e se lançou de vez ao ataque, em um 4-1-4-1 totalmente desorganizado que encurralou a Ponte – que a esta altura, com o recuo natural de Cicinho, já estava em um 4-3-1-2 – em sua retaguarda. A pressão desvairada teve efeito em um lance polêmico. Quando Renato Cajá e Douglas subiram em uma disputa de bola, o camisa 10 campineiro ficou no chão e o time do interior seguiu com o lance, mesmo com seu jogador caído. Na seqüência, o Corinthians recuperou a bola e seguiu com o lance até a bola chegar em Willian livre no bico direito da grande área para bater cruzado e diminuir o marcador. Pouco depois da retomada da partida, o mesmo Willian teve grande oportunidade de empatar, quando Paulinho tocou por cima do goleiro e o camisa 7 debaixo do travessão foi antecipado por Ferron (dono de atuação memorável), que acabou jogando pra fora.

Em meio à pressão e na pressa em busca do empate, Julio César tentou repor rapidamente na cobrança do tiro de meta e atingiu as costas de Leandro Castan e viu a bola cair nos pés de Renato Cajá que acionou Rodrigo Pimpão livre pela esquerda para ampliar e praticamente matar o jogo. Na saída de bola, Alex acertou chute da entrada da área e recolocou o Corinthians na partida, botando fogo nos minutos finais, mas a equipe não teve forças para buscar o empate e caiu perante um adversário que mostrou grande dedicação na parte tática, que jogou infinitamente melhor e foi muito merecedor do triunfo.

GUARANI 3-2 PALMEIRAS

Já no duelo alviverde do Brinco de Ouro da Princesa, Guarani e Palmeiras fizeram um primeiro tempo de muitos erros e poucas chances de ambos os lados. Felipão surpreendeu e voltou Luan à equipe, na mesma função que o camisa 11 exercia antes da contusão que o afastou por cerca de três meses: dando velocidade ao time pelo lado esquerdo e se juntando a Barcos no comando do ataque e abrindo o corredor para Juninho, além de fazer o cerco ao lateral oponente, o que matou uma das principais saídas dos bugrinos, com o rápido Oziel pela direita. No mais, o time da capital era praticamente o mesmo que já vem sendo utilizado por Scolari, apenas com a entrada de Mauricio Ramos na zaga, visando uma melhora na bola aérea, grande problema da equipe.

Guarani-Palmeiras

Apesar de jogar em casa, o time de Vadão era retraído, e esperava jogar no erro dos visitantes. Além de ver Oziel ser bem marcado por Luan, outra boa saída da equipe, com Danilo Sacramento, acabou sacrificada devido a preocupação do camisa 8 em cercar Marcos Assunção. Ainda assim, foi o bom volante que teve a melhor oportunidade da primeira etapa, quando Bruno Recife cruzou, a bola atravessou toda a área e Sacramento no segundo pau arrematou para fora, já no fim dos quarenta e cinco iniciais.

Na volta do intervalo, o time da casa avançou suas linhas e passou a encurralar o Palmeiras. Não demorou para que a pressão surtisse efeito. Fumagalli cobrou escanteio fechado, Deola saiu mal e viu a bola tocar a trave do outro lado antes de entrar, golaço olímpico do camisa 10. Mal deu tempo de comemorar o primeiro e já veio o segundo gol bugrino, apenas três minutos depois. Visivelmente sem ritmo de jogo, Luan não conseguiu acompanhar Oziel, que também deixou pra trás o zagueiro Henrique antes de cruzar rasante na área para Fabinho no segundo pau apenas escorar para o gol vazio. Novamente, mal deu tempo de festejar. Na saída de bola, boa jogada de Luan pela esquerda, e Marcos Assunção, aproveitando o rebote, diminuiu e incendiou a partida de vez.

Em desvantagem no placar, Felipão trocou o marcador João Vitor por Valdivia, lançando o time ao ataque. Com a mudança, Daniel Carvalho foi deslocado para o flanco direito, enquanto o chileno passou a preencher a zona central da trinca de meias palestrinos. Assim, o alviverde da capital passou a reter mais a posse da bola e trabalhar na intermediaria adversária, mas, muito na base do abafa e sem organização, não chegou a ameaçar a meta de Emerson. Scolari ainda lançou Fernandão e Patrik nas vagas de Daniel Carvalho e Luan, porém, sem muitos resultados.

Já nos acréscimos da partida, um replay do segundo gol dos mandantes. Em contragolpe rápido, novamente Oziel escapou bem pela direita, foi ao fundo e cruzou rasteiro. Mais uma vez Deola saiu mal, não conseguiu cortar e viu Fabinho chegar para concluir e praticamente definir o jogo. Só não estava definido, porque a exemplo do rival Corinthians, o Palmeiras conseguiu um golzinho logo em seguida, com Henrique, que pôs fogo nos minutos finais da partida, que no fim, ficou nisso. O time campineiro fez valer o fator casa e se impôs diante de seu torcedor, apesar de um domínio ligeiramente maior por parte dos comandados de Felipão, que tiveram mais posse de bola, porém, sem efetividade, e principalmente, sem qualidade para saber trabalhar esse maior tempo no controle do jogo.

Guarani e Ponte Preta farão um dos derbis mais importantes da história dos rivais campineiros. Duas gratas surpresas em um estadual que se marcava pela “chatice” de ter sempre os quatro grandes entre os finalistas. Dois clubes de grande tradição e que podem ter nessa campanha mais do que digna uma esperança de renascer para o cenário nacional. Fica a torcida por um grande jogo de futebol. E especialmente, fica a torcida para que corra tudo em paz no próximo domingo na cidade de Campinas, ainda marcada pela trágica morte do torcedor bugrino no chamado “derbinho” entre os times sub-17, há pouco mais de um mês.