sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Jogo dos 7 erros (e do único acerto)


Como uma seqüência de erros do Vasco da Gama culminou com a saída do bom treinador Cristóvão Borges e pode até afastar o time da Taça Libertadores em 2013.

1. Falta de estrutura para treinamento: É impensável que um time profissional de futebol, com grandes pretensões, não tenha um Centro de Treinamento digno. E é isso que o Vasco da Gama vem vivendo. Treinando no estádio de São Januário, o resultado não poderia ser outro senão a deterioração do gramado, e com isso, uma queda no nível de apresentações da equipe.

2. Falta de comando superior: A ausência de Felipe no treinamento alegando lesão e a aparição do próprio lateral/meia jogando futevôlei na praia não deixa outra impressão senão a de que falta comando dentro do clube. E não é de hoje, desde a saída de Rodrigo Caetano da Colina que a diretoria vascaína não mais se encontrou. Como se não bastasse, na tarde de ontem, o atual vice-presidente de futebol, José Hamilton Mandarino também pediu as contas e se mandou de São Januário.

3. Vendas de peças importantes sem reposição: Fagner, Allan, Rômulo e Diego Souza. Três titulares absolutos e um polivalente jogador que sempre entrava no decorrer das partidas, quando não era escalado de inicio. Os quatro, vendidos na janela de transferências, eram de suma importância para Cristóvão Borges na montagem da equipe. Fagner, vendido ao Wolfsburg, formava pelo lado direito uma dupla aterrorizante ao lado de Eder Luis. Rômulo, que partiu para o Spartak Moscow, era a sustentação da defesa vascaína, atuando como primeiro volante, ou no vértice esquerdo, dando suporte a Felipe, quando esse atuava pela lateral. Diego Souza rumou para os árabes do Al Ittihad, era o jogador mais participativo e mais incisivo do time. Corria, brigava, combatia a defesa adversária, driblava, concluía, fazia gols e também os errava como errou contra o Corinthians pela Libertadores. Porém, mais uma vez era ele quem estava ali para criar o lance. Hoje o clube não tem esse jogador, porque Carlos Alberto, que começou o ano encostado na Colina, foi o escolhido para ser o substituto do ex-camisa 10, não consegue ser decisivo como era Diego. Wendel veio para a vaga de Rômulo. Um bom jogador, interessante para compor o grupo, e só, pois está muito abaixo do volante da seleção brasileira. Para o lugar de Fagner, veio Auremir, que era volante no Náutico, teve que se transformar em lateral no Vasco e não deu certo. A nau cruzmaltina começou a perder o rumo a partir da saída dessa espinha dorsal.


4. Queda técnica de jogadores importantes: Soma-se a saída de alguns nomes à queda de outros tão importantes quanto os que se foram, e pronto, o resultado dessa equação é visto na tabela do campeonato e mais importante, no desempenho em campo. Eder Luis, que era infernal pelo lado direito, hoje não produz absolutamente nada – talvez em função da saída de seu “parceiro” Fagner. O zagueiro Dedé, desde que retornou da lesão que o afastou dos gramados no fim do primeiro semestre, ainda não conseguiu repetir as atuações seguras da temporada 2011. E até mesmo o capitão Fernando Prass, outrora impecável, vem cometendo erros bisonhos na meta vascaína e comprometendo diretamente o time.

5. Erros de Cristóvão Borges: Além das saídas de alguns nomes e da queda de outros, Cristóvão também tem errado. Nada que justifique a perseguição da torcida, longe disso, mas algumas decisões infelizes do comandante também entram na soma de fatores que resultaram na baixa produtividade vascaína. A insistência com Eder Luis, em péssima fase, com Tenório no banco pedindo passagem. O lançamento precoce de garotos como John Cley e Luan num time em turbulência. Além de improvisações absurdas como a de Fabricio pela lateral na partida contra o Bahia. O defensor já é fraco atuando na zaga, sua função de origem, não fazia sentido algum deslocá-lo para a beirada do gramado. Isso sem contar a falta de alternativas da equipe, que adotou de vez o 4-3-3 como sistema padrão e inalterável, independente da postura adversária ou das opções que o técnico tinha em mãos.

6. Falta de respaldo ao treinador: Uma imagem foi emblemática para esse que vos escreve durante a passagem de Cristóvão no comando do Vasco. Após a vitória apertada sobre o Lanús pelas oitavas de final da Libertadores, começou um show de vaias e ofensas ao treinador, que teria que atravessar todo o campo até a entrada do vestiário, do lado oposto ao banco de reservas. O grupo de jogadores, em total apoio ao comandante, parou no centro do gramado e aguardou sua chegada ali, para junto com ele, irem todos ao vestiário, num gesto de amparo ao técnico que se repetiu outras vezes. No último domingo, depois da derrota acachapante sofrida perante o Bahia, ao apito final do árbitro, os jogadores correram para o vestiário, “abandonaram” Cristóvão com a ira da torcida e toda a pressão que uma derrota vergonhosa traz. Um ato covarde de um grupo que já demonstrou não ser.

7. Saída de Cristóvão Borges: A saída do treinador é sempre uma válvula de escape utilizada por clubes brasileiros em crise. No caso vascaíno, cabe a ressalva de que Cristóvão não foi demitido, e sim, pediu o boné. Obvio, não suportou a pressão toda sozinho, sem respaldo de jogadores e diretoria. Na opinião desse blogueiro, a reorganização do Vasco passava essencialmente por Cristóvão, em parceria com Ricardo Gomes na temporada que está por vir. A atual não está perdida, mas a troca não significa que vá recuperá-la.

Marcelo Oliveira fez bom trabalho no Coritiba, e foi o único acerto vascaíno em toda essa confusão do time. Já que acatou ao pedido de demissão de Cristóvão, o ex-atacante do Galo era realmente o melhor nome no mercado de treinadores para assumir o comando. Mas precisa de tempo, não tem perfil de treinador que chega e sacode o grupo para que esse renasça de imediato, que é exatamente o que precisa o Vasco nesse momento.

Protesto da torcida vascaína durante jogo da última quarta-feira contra o Palmeiras.

Um comentário:

  1. Muito bom, Rafael!

    Você destacou exatamente os pontos cruciais dessa "crise".. embora é sempre bom lembrar que estamos falando de um time que está em 4º lugar no brasileirão.

    Acho que esqueceu de um ponto. Um 8º erro, chamado TORCIDA. Que nunca apoia, tudo critica, vaia, joga contra a todo momento. Mas enfim, é isso mesmo. Parabéns!

    Abraço, Igor

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