quarta-feira, 26 de março de 2014

CINCO PONTOS SOBRE O CLÁSSICO ESPANHOL

Tudo que era esperado se confirmou quando a bola rolou no Santiago Bernabeu no último domingo. Um jogaço espetacular entre duas das maiores equipes do planeta. Sete gols, viradas no placar, belos lances, times atacando sem pensar no amanhã deixando suas defesas expostas, erros de arbitragem, enfim, todos os ingredientes que transformam aqueles 90 minutos em algo que dificilmente sairá da sua memória. E da de qualquer um que goste de bom futebol.

Claro que uma partida assim não poderia passar em branco, sem um texto sequer tratando daquele que já pode ser considerado um dos melhores jogos do ano. E pelo “atraso” na postagem, hoje provavelmente você já leu tudo (ou quase tudo) sobre o clássico espanhol. Por isso, tentaremos aqui fugir do lugar comum e destacar cinco pontos determinantes na vitória do Barcelona que embolou de vez a liga espanhola.

1. VARIAÇÃO TÁTICA DAS EQUIPES: Aparentemente, tudo normal, com as duas equipes inicialmente postadas em seus “sistemas padrão”, o 4-3-3. Porém, bastou a bola rolar para os jogadores em campo se distribuírem de maneira diferente. No Barcelona, Xavi recuava e praticamente formava uma dupla de volantes com Busquets, enquanto Fabregas centralizava um pouco mais a frente, na mesma linha dos pontas Neymar e Iniesta, fazendo quase um 4-2-3-1, deixando Messi no comando. Enquanto no Real Madrid, Cristiano Ronaldo saía da ponta esquerda e procurava o centro do ataque, deixando o lado para Di Maria que abria como um winger por ali, enquanto Bale fazia o mesmo do lado oposto, formando duas linhas de quatro.


2ESPAÇOS A MESSI: A idéia de usar duas linhas de quatro contra o Barcelona já foi muito bem executada pelo próprio Real Madrid com José Mourinho, que compactava as duas linhas em seu campo de defesa para reduzir o campo de atuação de Messi, que invariavelmente busca jogar entre elas. Pois Carlo Ancelotti não utilizou o mesmo antídoto de seu antecessor e pagou caro por isso. Messi teve espaço de sobra entre as duas linhas, e sem ninguém o acompanhando, foi decisivo. Primeiro com o passe genial para Iniesta abrir o placar. Depois com jogada individual que limpou a defesa antes de acionar Neymar, que até foi desarmado por Carvajal, mas a bola voltou justamente no pé esquerdo do 10 blaugrana para o empate no fim da primeira etapa. E por fim, com outro lançamento sensacional para Neymar entrar em velocidade (e em impedimento) e acabar derrubado por Sergio Ramos, que culminou em penalidade e expulsão do zagueiro merengue.

3. DI MARIA: Se o espaço de Messi foi crucial para o Barcelona e para o resultado final do jogo, Di Maria foi a principal arma madridista. O argentino, como já fora dito, procurava o flanco esquerdo e era letal naquele setor. Sem o apoio de Neymar no combate, Daniel Alves invariavelmente ficava no mano a mano contra o camisa 22 merengue ou por vezes, até no um contra dois, quando Marcelo descia pro apoio. E assim, o lateral blaugrana foi presa fácil. Por ali, Di Maria criou as jogadas e assistiu para os dois primeiros gols, ambos anotados por Benzema. E poderia ter saído mais, já que em outros três lances também criados pelo argentino, Benzema teve chances claras de anotar seu hat-trick. Uma delas, o francês isolou por cima, testou outra à esquerda da meta de Valdes e viu Pique salvar a mais clara em cima da linha.

4. ASTROS APAGADOS: Dentre os 22 jogadores em campo, quatro tinham atenção especial: Messi e Neymar do lado blaugrana, Cristiano Ronaldo e Bale no lado branco. Dos quatro, apenas Messi teve atuação digna do craque que é. Seu companheiro Neymar, novamente gerou contragolpes ao adversário sendo desarmado facilmente, desperdiçou algumas chances claras de marcar e acabou participando no lance decisivo, sofrendo o pênalti de Sergio Ramos. Do outro lado, Bale foi muito discreto, participando muito pouco da partida, e Cristiano Ronaldo esteve longe das atuações que o levaram ao posto de melhor do mundo. Incrivelmente apagado, pouco fez no jogo e apareceu somente lance do terceiro gol, sofrendo e convertendo a penalidade.

5. ARBITRAGEM: Infelizmente, os erros do árbitro Alberto Undiano Malenco renderam muito mais assunto do que o jogaço em campo. Começou com a penalidade cometida por Daniel Alves sobre Cristiano Ronaldo. Muitos acharam que nem falta foi, mas houve sim o toque do brasileiro no português, mas fora da área. O fato é que o apitador apontou a marca da cal e o camisa 7 converteu com a precisão que lhe é peculiar. Pouco depois, o erro mais grave e mais determinante para o resultado final. Neymar partiu em posição de impedimento para receber lançamento de Messi e sair de frente com o goleiro Diego Lopez – Impedimento por centímetros, talvez milímetros, mas, impedimento – e cai em disputa com Sergio Ramos. Na velocidade do lance, o toque é imperceptível, e pelo menos esse que escreve, só viu de fato o contato numa imagem congelada. Se foi o suficiente para derrubar o brasileiro ou não, difícil saber, pela velocidade em que estava o camisa 11 e também pelo seu péssimo hábito de simular. Mas o fato é que há um toque, e Undiano Malenco não teve duvidas. Apontou a penalidade, e de quebra, expulsou o zagueiro madridista. Expulsão correta, diga-se, partindo da premissa que o árbitro interpretou o lance como faltoso e o beque usou da falta para impedir uma chance clara e manifesta de gol. Messi cobrou e empatou, assim como mais tarde cobrou e converteu outra penalidade, essa sofrida por Iniesta em tranco de Xabi Alonso. Esse último, incontestável.

Na imagem congelada, fica claro o toque na perna esquerda. Na velocidade do lance, quase impossível ser visto.

 A derrota diante do Barcelona tira a liderança do campeonato do Real Madrid, que agora vê seu rival local Atlético na ponta, com o mesmo número de pontos dos merengues, mas com vantagem no confronto direto, primeiro critério de desempate. Enquanto o Barcelona que parecia sem forças e distante da briga, volta a ter muitas chances de título, agora que está a apenas um ponto dos líderes da capital. Briga acirrada na mais sensacional e imprevisível Liga dos últimos tempos. A única coisa que dá pra afirmar é que a taça estará em boas mãos com qualquer um dos três.


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